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posts aleatórios sem tópicos específicos ou muita mirabolanticidade. papos sem fundo. bem-vindos! (comentem!)

domingo, janeiro 17, 2010

um esboço de um post sobre mim, as estradas das cidades de contos-de-fada, a água e o gelo da Suécia que conheci.


O avião chegou a decolar. Eu tricotava, ela pescava. Parecia que tudo dos últimos dois dias antes desse decolar tinham sido desnecessários. Todo o faz-de-conta, o fugir dos afazeres acadêmicos que abandonados assim viriam talvez a pesar quando voltássemos... era só uma possibilidade, e felizmente o que aconteceu de verdade é que nada passou a pesar mais nem menos depois que se deu um pulo no céu e voltou. Funcionou bem como eu queria que funcionasse; era pra ser mesmo o leve escapar desse peso que está sempre aqui. Em época de prova... só com a sorte ao lado pra ter agora o peso extra em Alegrias.



Estocolmo me encantou. Encanato indefinido por não saber bem quando nem o quê me tomou, especificamente. A gente, bastante hospitaleira e disponível. Em geral, altos, imponentes e bonitos, de feições mais "rudemente" talhadas, uns vickings quase como os que eu sempre imaginei só que sem os berros com garrafas de mead na mão e os capacetes com chifres.. Claramente patriotas, gostam de mencionar fatos da sua história nas conversas corriqueiras com nota de orgulho. Ah sim. Notável orgulho no jeito de ser também (não que deixe de dispertar encanto!)...

O aeroporto que Skavsta não é grande. Depois de aterrisados andamos da aeronave até o prédio ao ar livre. Fazia bem menos frio do que eu esperava (depois de tudo que a tevê anunciou ter sido na semana anterior!), e mesclado aos meus pensamentos o cheiro de gasolina com o cheiro do gelo, e em volta tudo escuro. Não via nada, mas a primeira impressão das pessoas do lugar me vieram na figura do abastecedor de combustível. O primeiro sueco que vi e o silêncio da natureza em volta já me tocavam.


Nosso primeiro ponto positivo foi a carona que conseguimos do aeroporto até a cidade de Estocolmo. Economizamos dinheiro valioso nessa terra carérrima sem nem pedir, e foi ela primeiro, uma jovem mãe polonesa com sua filinha quem nos ofereceu carona. A viagem de mais de uma hora voou. Ela e o marido eram os dois muito simpáticos, flexíveis e conversativos. Contaram da sua vida quando ainda na Polônia, e como ela é já há vários anos na terra fria, e perguntavam da gente. Pequena Olivia assistia o dvd e ria da própria despreocupação enquanto a gente tomava uma injeção de primeiros-fatos-a-se-saber-antes-de-visitar-estocolmo tentando ignorar as partes desfavoráveis pra não cair num stress bobo bem na hora do Agora vá com tudo. Em geral, adorei ter conhecido gente polonesa de lá. Dão uma visão de vida como eu daria se conhecesse um brasileiro de passagem na Polônia e talvez nem tanto turístico, mas mais pro lado de como entender as pessoas locais. Claro que ficaram preocupados com a gente tar indo às cegas morar na casa de um cara que a gente nem conhece, lindas e quebradas estudantes felizes, e ofereceram-nos sua casa e ajuda, caso a gente precisasse.


Eu ria tanto no fundo do meu coração, tão feliz e nervosa que eu estava com tudo que provava possível acontecer e adicionar à nossa viagem de três dias as emoções que eu precisaria pra passar pelomenos três meses no mundo dos sonhos.. E então, chegamos à nossa casa, e ele esperava à porta, acenando, vestindo camisa preta, todo branquelo de cabeça raspada, loira..
Nosso anfitrião Hampus. *sorriso



Hampus tem voz grossa. Hampus fala inglês com um sotaque britânico impecável. Hampus é baixinho, mas não sei porquê minha primeira visão ao vê-lo foi de um cara alto. O apartamento de um quarto, a parede cinza, os computadores. Quem seria esse mini-vicking que oferecia-nos seu sofá!


A Z. sem entender nada do que era dito em inglês deixou pra mim o social. O amigo Oscar também papeava, e parecia que a gente tinha combinado uma festinha de conhecidos em casa com bebida, cigarros e muita música. Foi legal. Hampus joga "larp", que eu nem sabia poder ser um hobby tão sério: ele mesmo costura as réplicas das roupas antigas e faz cintos e espadas e capacetes pras batalhas e banquetes a se encenar. Ele mesmo constrói suas estórias; seu mundo é literalmente levado à vida. Que carinha lindo.

Já nos primeiros momentos da viagem, ficou meio confuso na minha cabeça qual era o objetivo de ter viajado pra lá. Enquanto eu conversava animadamente com meu host e esquecia da cidade e do turismo, senti que eu facilmente cederia a tentação de ser uma moradora temporária daquele apartamento com coração e alma. Essa minha mania de não ter objetivos concretos, essa coisa de eu nunca saber levar as consequências como sendo uma opção que escolhi, uma decisão que tomei e não simplesmente uma sorte de fatos que acontecem independente de mim. Hah, eu sou uma encantada eterna. Uma boba. E se eu nunca saísse desse apê, ficasse aqui com eles, e aproveitasse as festas, a comida, o papo! Essa seria minha Estocolmo! hahaha!


Na nossa primeira noite vagamos pelas estradas vazias e calmas da cidade velha como dois personagens errantes procurando o local do desenrolar do seu conto-de-fadas. Frio gostoso, que ativa as partes adormecidas da mente. Ar como o de montanha, ar limpo, ar que refresca. Essas coisas. Foi o tempo que aproveitei pra processar o que tinha acontecido até ali, e pra tentar imaginar o que viria a seguir.

As janelas que são construídas de forma que parecem uma extensão da parede do prédio, as cores barrentas e bonitas, as ruelas expondo vitrines de papelarias com materiais reclicláveis, halces, vickingzinhos, gnomos dinamarqueses, as aventuras de TinTin, muffins e pubs escuros lotados de gente elegante. A água por toda parte, as ilhas que são a cidade. Eu e Z. líamos em grosseiras tentativas suecas os anúncios das lojas em voz alta, e explodindo em risos por saber que fazíamos péssimo exemplo de informação linguística, andávamos sem nos perder e encontramos pontos importantes da cidade por acaso. Um acaso foi a ruela mais estreita da Suécia.





Nessa noite, terminamos indo num bar. Z. abriu a porta do lugar esperando que nos barrassem pra pedir a identidade e disse por cima do ombro "é um bar de karaokê" (haieuahe o que não era, mas a mulher cantava meio mal). Em primeiro lugar, preciso frisar que Estocolmo é muito cara. Eu achava que era exagero de todo o mundo que sempre dizia isso como se fosse importante saber. A moeda é a coroa sueca, e ela é 0.4 do zloty polonês, mas espantosamente, mesmo assim a gente pagava pelo menos o triplo do que paga na Polônia por qualquer coisa, fora os eletrônicos e os perfumes.. Comprei uma cerveja, a mais barata, por 58 coroas (ainda deixei o troco pro lindo barman que me atendeu, sem ter muita certeza qual era o esquema deles com essa questão) (pedi em sueco "tvö Falcon" pra ouvir do bar "hundred sixty corons please" rs), e uma dose de vodka absolut por 68! Tentamos muito não parecer duas bankrupted students se destacando do resto da gente lá, que mesmo num pub, arrumada, mas tava difícil.


Aí chegaram dois caras e nos convidaram pra sentar com eles à mesa. Eram Kristian e Gustav, e logo depois Frederico o franco-genovês e um outro fulano dinamarquês juntaram-se a nós bebendo e papaeando. No mais, foi frustrante a Z não poder se comunicar em inglês e vendo ela ficar irritada me irritou também. Eles eram muito legais, mas eu não conseguia entender quem eles eram. Se estavam sendo sarcásticos ou não, e agora que penso, a gente conheceu bastante gente que era difícil de entender nas intenções das palavras. Ficamos horas com eles lá, curtindo. Era já tarde, e eles começavam a oferecer planos caseiros como alternativa, sem compromisso (rs). Aí quando decidimos levantar e ir, Gustav pediu meu número de telefone e disse logo que estava ligando pra eu poder anotar também.

E foi aí que eu notei a ausência do meu celular E da minha novíssima câmera digital.......! De repente me voltaram à memória todas as frases que me foram ditas quanto a Estocolmo ser a cidade mais segura da Europa ou sei lá, e como aqui realmente se preza a vida pacífica e etc.. Então tudo que digo agora, é, não sei o que aconteceu que minhas coisas saíram da minha presença pra rua, mas terminou que uma menina atendeu o meu telefone quando liguei do telefone do Kris e disse ter encontrado o celular E a câmera na rua, não longe dali. E pior, ela não estava nesse bar e mostrou interesse por mim e por quem eu era, e fico pensando como foi que esse quase total roubo me aconteceu na cidade mais segura.. o que por outro lado provou verdade ao outro fato, de as pessoas realmente devolverem as coisas que não são delas. Cheguei a pensar se um sueco frustrado não tentou um roubo e se arrependeu, e eu fui a sortuda a vivenciar esse acontecimento inédito... hehehe.

Voltando pra casa, nossa primeira noite não foi nada descansada. A gente já sabia que não éramos as únicas a tar vindo morar lá com ele, e Carlos e Lidi (xis) vindos da França estavam fazendo a primeira social quando chegamos as duas cansadas querendo dormir. Aí era tanta fumaça naquele apê que eu achei que fosse morrer. Depois que deu 5 da manhã e nenhum deles fora o Oscar pareceu ceder à falta de sono, eu e Z desistimos de achar que chegaríamos a sequer ter uma hora de sono.


No fim, todo mundo dormiu. Eu e Z dividimos um sofá e eu pregada contra o encosto do sofá acordei uma hora depois achando que ia vomitar de tanto desconforto e calor. Morreeeeendo de cansaço, passando mal e com calor, deitei no chão da cozinha e adormeci. Acordei novamente uma hora depois, congelando e sem saber o que fazer comigo mesma, sentei na poltrona e fiquei a observar todo mundo se amontoando, de alguma forma mais confortavelmente que eu estive até então. No fim, adormeci em cima de uma almofadona de sofá que estava no chão e dormi descoberta, aí quando pela manhã acordei, dei com uma herpes machucando meu lábio. Típico.

***


Segundo dia


Na manhã desse nosso segundo dia em Estocolmo, juntou-se ainda ao nosso grupo agora de 6, um brasileiro vindo de Berlim, Mateus. Foi engraçado conhecer um brasileiro assim, e ele era muito boa gente. A Z adorou, e tentou seu português sem grandes resultados. E assim o dia que começou tarde, foi um dia de tour pela cidade acompanhados do nosso vicking particular e parecíamos uma escursão muito doida de estudantes vindo esfriar os miolos num tempo de passagens baratas (que é o que nos levou todos àquele momento, à esses dias, juntos). Conhecemos aí muito da cidade nova, e o palácio do Rei, o Parlamento e o Burger King da estação central.



o palácio.


Enquanto no apartamento Hampus preparava a casa pra receber uma festa pra qual estavam convidadas sessenta pessoas, nosso grupo se decidia a visitar o museu Vasa pra ver o meganavio retirado do mar em um estado praticamente intacto depois de tanto tempo no fundo do mar, e eu procurando nosso caminho, acabei conhecendo uma menina Sara que morava lá perto do museu, e ofereceu que seguíssemos sua quieta, delicada, desperturbada pessoa.

Diferente do que lemos no guia turístico, o museu não era de graça, e depois de andar tanto tempo só eu e Z optamos pagar as 80 coroas da entrada. À noite, eu já tava meio de saco cheio dos meninos conosco, queria mesmo é andar no nosso ritmo lerdo, e rir bobamente e ficar perguntando coisas pros suecos da rua só pra ficar olhando pras caras bonitas deles, comer muffin e beber água das torneiras (delícia de água potável que eles tem no sistema de águas), e andar, andar, o mais longe de casa possível; deslimitar o que a gente poderia teria como limite.

Já era tarde quando Carlos anunciou tar indo encontrar uma amiga sueca na estação, e com ele foram os outros. Aqui a gente não continuou na saga turística, mas deu pra descansar os pés e os olhos.


Nossa segunda noite eu diria, foi um caco de vidro no coração. Chegamos num ponto em que estávamos longe de casa e cansadas. Não queríamos muito voltar pra casa, e imaginamos que a festa na casa dele se extenderia ainda mais que a noite anterior, e que nunca chegaríamos a dormir sequer algumas horas. Aí ligamos prum outro garoto que conheci pela internet, um host em potencial que no fim tinha perdido na votação pro atual, e quando ligamos pra ele, na hora disse com sua voz linda, que com prazer nos encontraria.


E nosso plano então, virou uma maratona de chegar em casa e mostrar a cara na festa pra daí correndo encontrar com o novo amigo Tom e seu amigo Kris na estação Slussen, e no caso se fossem muito legais a gente pediria uma cama pra dormir também. Infelizmente, aqui quebramos a cara feio. Chegando na festa, estava tudo perfeito. Carlos cozinhava uma acho quejadilla na cozinha, Hampus super produzido arrumara e limpara o quarto de dormir pra caber as pessoas que não paravam de chegar. Eram tantos que nem sei o nome.


Lembro do menino esguio e bonito de 17 anos que contava da sua escola onde foi obrigado a praticar ballé durante os 8 anos do ensino fundamental, da menina do nome difícil de pronunciar que é dançarina contemporânea e ex-namorada do menino estoniano-sueco que a Z tava arroizando que em uma semana faz 19 anos, ocasião que Hampus e seu amigo típico-cabeludo-barbudo-loiro-e-grande-vicking do-sorriso-de-dentes-cheios-e-cor-de-porcelana aproveitarão pra jogar uma surpresa maligna, do Félix que viajou pra Índia e trouxe um destilado de caju, do cara do gel no cabelo, do cara que disseram pra gente ser um típico sueco mas mais parecia um filho de francês de descendência negra emigrado pra Suécia, e do cara mais alto e quieto da festa o qual não ousei puxar pra conversa. Uma maravilha (heh eheh ehe)! Nessa altura da noite eu havia evidentemente desistido de ir econtrar com o Tom, mas tudo que impediu que eu furasse faltando meia hora pro estrago foi consideração pela outra pessoa..


Aí foi que tudo se estragou, porque assim que conhecemos o Tom e o Kris eu vi que tava tudo errado. Tom era lindo. Melhor que na foto, melhor que pelo telefone. Melhor que muita muita gente que conheci até hoje, mas por dentro, um cretino imensurável. Seu amigo de 36 anos tinha uma relação esquisita de quase-babá com o Tom, e eu não conseguia entender direito pq o Tom, que até então tinha soado tão de boa só conseguia falar coisas do tipo "i want to get drunk and wasted" ou "let me think what i should say next, uh......... whatever." ou ainda "i don't give a fuck about anything since i have already experienced all that i wanted to". E duas horas depois eu já tava com medo daqueles caras esquisitos, e olhando pra Z que tava mais fora de órbita que eu, e eu na minha consecutiva tentativa de sair dali por fim levantei da mesa pra ouvir um "okay okay, since you're not going to do it, i 'll get to the point: what you say we go to my place have some wine and a good time".


Essas três horas desperdiçadas espero sinceramente apagar da memória. Talvez eu apague o parágrafo desse post algum dia também. Ou não. Porque o que veio depois foi uma continuação do bom que havíamos interrompido, e isso é que por fim fica na memória.. :)
Felizmente.

***

Voltando pra casa, eu já tinha recebido uma msg do Hampus falando que estavam todos numa boate em Skanstull, mas até eu que topo em praticamente qualquer situação uma saída pra dançar, segui os passos da Z até o apê. Não tinha ninguém lá, claro, e cheguei a achar que a gente ia sentar naquela porta e chorar e adormecer até o sol raiar.

Passado um tempo, escrevi perguntando se poderia pegar com ele a chave. Respondeu que estavam já já saindo dali e indo pra outra boate. De um pulo levantei levando comigo a Z e andamos em direção à boate. De repente quem eu vejo ao longe, todo cool, todo todo, conversando nem tanto animadamente, mas no seu estilo sério de feição de ser, Hampus; com a menina dançarina bonita do nome difícil de pronunciar (Litna), e um amigo, que eu ainda não tinha conhecido.
Lars.


Tinham afinal desistido de ir na outra boate; acho que o nosso host tava cansado também e pedia por uma cama mais que eu e Z juntas. Lars e Litna foram comprar batatas fritas e coca-cola. Quando voltaram, Lidi e Mateus já tinham voltado da boate também. Z e Hampus adormeceram ao longo da noite. Carlos também, pouco depois de ter chegado com sua amiga sueca toda fresh, como se chegando pruma nova festa, num novo dia. Tava demais, tudo. Super calmo e gostoso. Batata-frita e jelly "Copains et copines", "quik quik" e "can-can". Enrolando cigarros, Bauhaus e goth. Eu, absolutamente apaixonada pelo Lars, seu cabelo de punk, seu sorriso, seu perfil, hot hot hot, seu sorriso psico ao imitar machadadas rs. Eu, perdendo minhas estibeiras, jogando risos noturnos pelo quarto, tentando tirar uma foto que fosse. Era tão tarde e eu queria muito que aquilo pudesse durar tanto mais. Parecia que tinha criado raízes no sofá onde a Z dormia, eu olhava sem parar pra ele e sorria com as pés, as costas e as clavículas. Sem me mexer daquele lugar estoquei em sentimento isso que fico a sonhar agora, lembrando das expressões faciais e dos jeitos de cada um, detendo-me um pouco mais nos que mais me fazem remoer a essência dos sentimentos bons que agora vão viver em mim.

***


Nosso último dia fomos no Moderna Museet, vimos a exposição de Salvador Dalí e do sueco Lundquist. Também não foi barato, mas valeu muito a pena. Aqui eu já tinha entrado em parafuso. O dia corria e no fim, voltamos pra casa enquanto Hampus dormia. Os outros não estavam mais lá, e nunca chegamos a lhes dizer adeus. Lars não estava mais lá. Ainda Nico apareceu, e perguntou num casual "o quê vão fazer hoje à noite" tudo que eu queria ainda tar podendo planejar. Quase perdemos o ônibus pro aeroporto, por dois minutos! e eu ria sem parar de toda a loucura que foi o metrô, o dia, dessa coisa chata que é de ter que voltar com pressa pros lugares de onde se saiu.

***



E bem, daí estava eu num avião praticamente vazio voltando dum reverie de três dias. O avião chegou a aterrissar. Too soon, eu diria. Em Katowice fazia bem mais frio que em Estocolmo, não me alegrava saber que o ônibus pra Kraków iria esperar pelo próximo avião pra ver se conseguia mais passageiros. Papear com o motorista, por favor, não existo aqui não.


Cheguei em casa acho que às 3 da manhã. Hoje acordei tarde, com gente me ligando pedindo dever de harmonia, perguntando pelos ensaios que foram e não foram marcados. Me confinei a esse quarto, às músicas do Lars e às fotos mal-tiradas e borradas que tenho da Suécia.
Maravilhosa vivência, essa internacional de estudante.


Aí novamente, e logo na semana de provas, minha cabeça dá uma misturada a 600 quilômetros por hora e meus cabelos implodem minha cabeça, que só existe momentaneamente nisto, em mim e atrás dos meus olhos.

Papai e Mamãe felizes, sua filhinha segura de volta ao berço. Não tem mundo que não se possa aumentar né. Mal posso esperar pela minha próxima revolução pessoal de emoções e experiências. Devia ser tudo permitido pra experimentar, enquanto ainda se é estudante, ou ainda se tem qualquer tipo de liberdade pra mais um pouco extra de vida que ainda não se conheceu.

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domingo, janeiro 10, 2010

sabor: bittersweet

nao planejava voltar aqui. parece, de uns tempos pra ca, que meu passado registrado aqui eh simplesmente um livro, ao qual gosto e posso voltar, mas que nao pede continuacao, retoques, influxo de outras weronikas do futuro, achando que podem mexer no passado que foi imperfeito mas satisfeito de si.

afastei com a mao as teias de aranha das aranhas que nao existem por aqui. ninguem mora, so dorme. tem um sarcofago vazio em materia, mas mesmo assim ta ali, e velado, guarda o que foi a intencao da epoca em que se deu. olho pra dentro desse sarcofago agora e nao sinto praticamente nada, engracado. neste exato momento tudo que me toca eh o pirulito de caramelo que acabei de chupar, as sementes de girassol no prato, os cadernos que esparramei pela cama pra eu fingir pra mim mesma que estudei. a neve la fora, que caiu o dia inteiro como se fossem placas de algodao despedacadas e arremessadas. olhando de baixo, parece um pouco o polen do mundo que eu inventaria pro meu mundo, se eu pudesse ser a criadora de um outro.
em mim tem tanto momento presente que nao consigo nem ter espaco prum mero desejozinho de relembrar sentimentos antigos! nada ruim, gosto assim. gosto tanto que chega vejo um afago baixar na minha cabeca, concordando com minha escolha. sou eu mesma falando comigo mesma..

Bittersweet Life eh um filme coreano que me marcou bastante. nenhuma razao especifica. talvez seja a musica dos creditos finais, talvez seja pq achei muito atraente o ator que faz o personagem principal. talvez porque eu queria que as desgracas e tragedias individuais de cada pessoa nesse mundo fossem todas honradas com a beleza de uma melodia, de um amor, de um filme talvez. de pelo menos um tipo de compensacao pelo triste fim que foi.
concordar em tomar as consequencias de uma vinganca que nao eh sua, eh concordar em tornar essa vinganca sua, e a revanche, a sua revanche. mas suponho que outro ser-humano so caberia em outro se fosse por amor. (...)

me atacou de novo a onda de aspiracoes a tudo que tem a ver com a coreia do sul. chega fiquei triste por ter descuidado a lingua, eu ja quase conseguia ler tudo direitinho. mas nao tem nada de graca, como bem o estudo ao piano me ensina.

se eu pudesse eu ficava a devanear a vida inteira, nunca me canso. hora da vontade disso, hora daquilo outro, mas na maior parte do tempo eu nao quero nada. so comida, e sonhos. sonhar acordada, comendo e olhando pela janela.
hah que post mais... lilas.
vou la mudar o rumo do meu dia.

quarta-feira, maio 21, 2008

Guarulhos, sala do Diners Club International

hm.
obrigada,
lu,
muxi e bella,
afonso e fofo,
luci,
marcos (q me fez chorar de novo),
flávio e ricardo,
rique,
[pedro , paulo e mateus... hehe]
e todos que sei q pensaram em mim hoje.
aos que me deixaram no aeroporto (ou me ligaram ou deram sinal de vida bem na manha da viagem)... valeu de coração, mas doeu muito na hora e dpois. chorei a viagem inteira de bsb pra sp e quase n sinto mais meu rosto.
não existem palavras (pra mim) q sejam tudo q sinto... n importa na verdade, cada um sente o que sente e eu sei o q sinto e se a gente sente de um jeito q nos faz parecer um só pelo menos nesse momento é o q importa pra mim.
chorar é mó bom
mas aqui nessa sala de silêncio acho q n me cabe.

desejo a todos absolutamente tudo de bom. amo.
até breve,
nika

Quanto vale chorar pelo que ainda não sabemos o que vai ser? Posso chorar, pra aliviar essa coisa estranha que não sei o que é? Quando acordo e penso no tanto que ainda queria fazer (antes de perder a possibilidade de fazê-lo) e não posso, dá uma sensação de vazio estranha e daí não consigo sentir nada. Porque já dói um pouco de tudo há algum tempo e a mente pára de reagir direito. Por isso estamos
nós lá no carro falando sobre o sinal vermelho na altura da 5 q a gnt sempre pega fechado [e as lembranças escorrendo do meu e do seu corpo, mudamos de assunto assim a todo segundo, não conseguindo nos fixar num único... e tudo parece tão irrelevante e ao mesmo tempo tão importante que seja tudo mencionado]; aí você fala uma coisa tão forte no meio dessa água de beber, que sem aviso, [surpresa de mim para mim] solto um uivo, uivo de lobo que força a minha garganta de gente. E eu aperto os olhos liquefeitos e cubro com a mão, e minha boca num sorriso de choro escancara muda do som que não existe para o tanto que eu quero que ele seja.
Bate logo esse carro numa placa dentre essas todas da UnB, merda!
Merda, merda, merda!
E fosse só ela lá me fazendo chorar já seria o meu fim do mundo. Mas acho que não existe limite pro tamanho do mundo que o fim finda. Ou que não exista limite pro fim do mundo, como se sempre pudesse ser pior.
E esse é o meu fim de mundo; essa coisa de ver os outros chorar também e me fazerem acreditar que esse choro é tão real como foram os sorrisos e os silêncios nossos. Pra cada um de vocês eu sou uma, mas todos vocês pra mim são o meu mundo. E eu nunca senti isso tão bem, mal.

...

acordo preocupada com o tanto que tem q resolver coisa de passaporte e tal aí tou eu lá indo no secretário e no caminho encontro tantos alguéns e pra cada um eu tenho q explicar pq n vou tar amanha na aula nem pq a gnt n vai c ve no teatro nacional pra super atracao de sabado - tudo de bom pra vc vc tem tudo pra passar vc vai passar vo sentir saudades manda notícia - agora que vc falou eu pensei em quao triste vai ficar esse departamento sem vc - ai eu entro na secretaria e o secretário nao tá lá e tudo q consigo fz é deixar um micro bilhete sentimental pro semi-estranho q certa vez recitou um conto de um livro das cidades invisíveis pra mim botei o bilhete dentro do livro e pensei o que ele pensaria no dia q lhe entregassem lá o livro q eu meio que surrei. saio da secretaria e é todo aquele departamento que passa por mim fazendo figas mas as pessoas q eu mais qria encontrar não estão lá. mta coisa rola em meio a muitas coisas que nem pensam em rolar, o dia meio corrido e sem sexo definido às vesperas do abandono completo da rotina. encontro meu rique e ele conta da pulseira e engraçado pq os dois tivemos o mesmo desejo pulserístico e acho q n tinha como ter terminado melhor. meu lindo henrique vindo de longe e dpois os croissants de chocolate e a gente no banco e a gente chorando em palavras e meio q a ficha não cai e a gente reconhece e ri aí a parte da despedida vai doer mesmo quando eu olhar pra ele pensando q eh a ultima vez.. e ele vai, e me escreve da lua e fala q eh pra mim e eu fecho os olhos e vejo um turvo globo magico suspenso no céu. depois o q rola é eu indo no finzinho da capoeira e a roda e eu de calça jeans e fumaça querido falando q essa roda tem despedida e povo jogando e no final me mandando jogar e eu jogando mal e engraçado e desengonçada rindo assim um atras de outro comprando comigo e a musica de roda "boa viagem" e eu morro e páro e eu tento falar umas frases a boca seca não sei se de adrenalina ou tristeza e meio choro e vejo no outro lado da roda bellinha linda de branco chorando já e sorriso, o gogó de ouro fazendo piadinha meninão e meu fumaça lindo e o tanto que a capoeira me dá e aí a saída como qqr despedida e como todo desgosto... bella improvisando mil maravilhas pra mim e eu chorando no carro dela pelo terceiro dia seguido (não tem cabimento isso) e é - tchau, até sei lá quando. desco, subo as escadas e eu tou na porta da lu ai eu faço um comentario tipo - tem um arranhao na porta o visinho aí ela fala - é tá assim pq no transporte de um móvel [e tudo isso é linguiça enchida, que seja, vc sabe o q eu qro dizer] . - oi rafa, oi lu, e aí? - tudo bem? . pra quê. uma hora dps, eu e lu no carro, e toda a nossa história em um carro. foi mó primeira vez q eu chorei por isso com ela e foi mto................... . escroto. e pra finalizar esse dia altamente nocivo pra qqr cabeça marcos e pedro me visitam e marcos às 2 da matina me escreve msg e acabamos eu e ele chorando no seu respectivo apartamente ligados pela msm msg virtual - tão tudo menos só virtual. ai.

domingo, maio 18, 2008

mamusia

mundo horizontal, eu gosto de deitar a cabeça na mesa ao lado do prato do almoço que terminei. a gominha de limão suspensa pendendo pra dentro da água do copo de vidro arranhado, e através dele, ela em uma miniatura, cabendo dentro do copo, o vestido bége e o braço gordo. a mesa suspira e descansa quando apóio meu sono nela, e eu imagino que o aroma da madeira não se perdeu, mas se transformou no cheiro do almoço brasileiro. e ela personificada respira e pulsa [mesmo morta] no mesmo ritmo que eu, ainda viva, pulso. quando estou longe da madeira da mesa, descanso na madeira do chão, e nele crio as raízes eternas da minha vida primitiva. enquanto penso isso, Mamusia olha pra mim e vê a filha-madeira em carne e osso olhando pra ela de uma dualidade confusa e pessoal absurdamente humana.

fragmento do fim do mundo

É noite e venta à beira de um lago. De todos as suas margens vê-se a silhueta em pontos iluminados de uma cidade brotando rasteira do chão. Lua cheia, centro do céu, a fraca luz do céu nublado... e mais fraco ainda, um halo estático propagado a um raio de aproximados trinta metros do centro da lua: a auréola! do senhor guia das emoções humanas e das marés, suspensa bem acima da terra como se isolasse o espaço do desenrolar de uma história-de-momento, em um divino silêncio absoluto.
Em densos contornos, mais pesados que a escuridão na ausência da luz do poste, vê-se a figura de uma pessoa; e dela o calor irradia, e já só esse tanto de calor lhe parece bastar no cenário quieto. Criatura indefinida, ereta. Não se distingue seu cabelo preso num coque, e a sacola de pano no ombro se mescla ao pano da roupa, e nisto, a pessoa se torna parte da paisagem como um borrão no quadro de um artista perturbado. A criatura aguarda, mas parece aguardar em vão. Nada animado se move, não há vaga-lumes, as garças já há muito se recolheram e a cidade leva a vida madrugada de mais um cotidiano dia cansativo.
Subitamente ao longe, faz-se visível uma balsa branca e lenta. É a balsa do fim do mundo. Há nela pessoas rindo e bebendo; murmurinho de gente viva. A criatura à margem do lago então se move - leva a mão ao coque e solta o cabelo que derrama pelas costas para logo em seguida ser apanhado pelo vento e esvoaçar furtivamente. A balsa, cada vez mais próxima, penetra a bolha de luz lunar e o motor arranhado pára. O murmurinho cessa aos poucos. O condutor da barca ilumina a água com uma lanterna potente, procurando o cais que não se faz visível em momento algum. Mas de repente, como se nascida das trevas, surge a maciça estrututra de um cais de madeira que, a cada nova iluminada da lanterna mais comprido parece se mostrar. Nele um homem já aguarda. A balsa se aproxima e ele atira as cordas para prendê-la. Na balsa o movimento recomeça.
A pessoa à espera, dá um pequeno passo desajeitado em direção à água e desiste. Hesita em movimentar-se, mas parece não resistir a uma força maior que a atrai à balsa. Espera que alguém desembarque, que a chame ou reconheça, mas ninguém vem. E quando nem a lua mais parece aguentar esperar pelo inevitável, a pessoa, a passos largos desata a andar, alcança o cais, e a cada novo passo seu, pedaços do cais se soltam no movimento da água. As cordas já desatadas são puxadas de volta para o cais e o motor insuportável da balsa volta a trabalhar. Cabelo, muito cabelo, muito pano e medo, ela tropeça e num susto desata a correr para não perdê-la. A lua grita ao longe, mas sufoca no barulho. Seu escudo de silêncio estremece visualmente e assim que a balsa sai do isolado lugar sob efeito, a luz toda se volta contra a própria lua que estoura como um balão frágil; o vento morre e a cidade adormecida apaga, deixando assim a noite e todos que nela ficaram à porta do fim do mundo.

quarta-feira, maio 14, 2008

preto e laranja

achei um pêlo seu na meia que eu tinha botado pra lavar.
sei que é seu porque é enrolado e pq tá na meia q eu usei no dia que a gente se enrolou.

terça-feira, maio 13, 2008

dizemos mes (nós)

têm textos que ensinam a escrever outros textos.
mas o único texto que não lembro saberem ensinar é a poesia.
(...)


terça-feira,
dia de ter sol
fez,
mas fez
o dobro de frio
também.

terça-feira,
dia de rezar o terço
sem missa,
porque a missa
é melhor
no domingo.

terça-feira,
dia de capoeira
não fui e
morri,
pois sem ela
não posso viver.

terça-feira,
dia de ter olhos
sem terçol,
dia de ter boca
sem herpes,
dia de ter cabeça
sem lapsos desconexos
entre os impulsos neurológicos que não posso controlar.
...!!

despregar
e comer a folha do calendário -
a foto
do lindo jardim
(perfeitas flores!)
que não traduz
dia após dia
desse mês de quatro
terças-feiras.
quatro possíveis
e acontecidos em metade
desastres totais.

santa terça-feira!
nascida do fiapo de cabelo
mais maldito,
da criatura mais esperta,
da mais presente,
e a que menos desaponta.

terça-feira,
de todos sempre a melhor
me diz:
nada é só flores..
(mas disto eu já sabia!)
e digo eu -
não sabia era
da insistência em não acreditar
que só as perfeitas existem.

quinta-feira, maio 08, 2008

a arte de cuspir

Que cuspe mais lindo
Esse
Grudado na tela
Do meu monitor!
Multicolorido amplificado,
Indispensável coisa esquisita
Com lá umas
Vantagens de se ter
O quê com ela fazer.


(eu preciso mesmo levar jeito pra essa vida e começar a pensar sobre as coisas q devia tar estudando!)

quarta-feira, maio 07, 2008

fisioterapia bucomaxilofacial

só mandíbula torta mesmo, pra dictar as palavras que esclarecem a felicidade que tenho em ter conhecido esse senhor doutor! penso, tentando lembrar, qual foi a minha primeira impressão ao ouvir sua voz ao telefone respondendo "Estou aguardando", depois deu ter avisado q ia me atrasar muito. acho q imaginei um bandido total. um consultório terrorista, paredes de pedra e cadeiras mandíbulodesentortadoras, e parafusos saltando para fora, e ele à mesa, e um telefone celular... hahahaha!! que piada. que viagem doente essa minha.
chego lá pra descobrir o lugar que precisava e o cara com qm sonhei esse tempo todo. aquele incógnita, aquele q n deixa definir se é sério ou sarcástico ou distante... ou profissional. ou a pessoa que os pacientes querem q seja. talvez ele seja um pra cada um. (mas ele é tanto pra mim). gosto de pensar q ele é exatamente tudo isso; pelo trabalho q faz, por atender as pessoas q atende e por ajudar tanta gente. por me fazer feliz e por me machucar toda quando força a minha musculatura tão atrofiada e acostumada ao descostume de fazer mexer a ossada toda. por me envergonhar toda, quando me pergunta como foi o fim de semana esperando ouvir algo relacionado à mandíbulas e dores cranianas, para ouvir em resposta de uma palhaça-sem-querer que foi bom porque "reencontrei uma amiga que não via há algum tempo... e andei muito de bicicleta... e mal podia esperar pra voltar aqui pro seu tratamento agressivo". [oi, eu amo você.]
sem metáforas. crua e nua, burra, besta à béça. totalmente criança, totalmente apaixonada, totalmente esperançosa e entregue ao estranho: meu para sempre, querido (novo) flâmula, dr. Flânio T.C. E obrigada Carol pelos papos (que ainda hão de ser os mais legais de todos os tempos); obrigada Paulinho (sempre no diminutivo. e adoro assim) pela rubra e quente venda nos olhos; e obrigada claro, ao menino-homem que me manda ter juízo e fazer tomografias-facada, dos olhos caídos e jeito de quem domina o mundo
ao cara da melhor pegada do mundo!
hauehaiuehauieh
carimbos de batata para todos
(eu nunca vou entender pq diaaaaabos, eu mencionei essa baboseira toda de pala-pós-guerra-das-batatas-polonesas)
:D

segunda-feira, maio 05, 2008

escorrimento pensal

Acabei de voltar do dentista.
da dentista. Lembra aquela que eu chamava de burra por ela anestesiar mal?, a que sempre pegava no nervo e eu ficava com medo de perder a sensibilidade de verdade?!? [isso foi mto sério e marcante pra mim, ai agora sempre que lá volto, quase choro qnd vejo a agulha].
Esse ano ela ainda não errou e eu começo a achar que é porque estou fazendo a fisioterapia bucomaxilofacial, e de certo, a minha mandíbula voltou a ter uma disposição normal de músculos E nervos. Faz todo sentido.
Agora consigo pensar em mais coisas além da raiva dela, pq como não rolam mais malanesetias, penso na vergonha que sinto de tar ali com aquela profissional - preciso admitir - muito bonita. E penso também na neura que deve ser manter a higienização do local, ou quem são essas ajudantes dela (seriam cobiçadoras a futuras dentistas?) , ou se rola algum romance entre os dentistas de cabines vizinhas...
Vidas alheias. Sei lá.
Cansada do dia por vir. Preguiça.
Preguiiiiiiiiiiiiça!

domingo, maio 04, 2008

a estrada: o collie e as pedras

- Ó ali! Aquela agachada na beira da estrada de terra, ao lado do collie, tá vendo? Aquela sou eu.
Vamo lá, só cuidado pra não tirar muitas dessas pedras do lugar, se não ela fica puta. O lance é andar pela grama, com cuidado. Não que ela vá te arrancar a traquéia, é só que ela dá uma de maluca, senta ao lado do cachorro pra ver você passar e rosnam os dois de um jeito que dá até calafrio. - [And were jammin in the name of the lord;Were jammin (jammin, jammin, jammin)].
*
é invitável. sempre gostei de catar paus e pedras, mas agora, mais que nunca, cato tudo isso pensando nele. No cara em questão. [é ótimo, eu li Noites de Oráculo do Paul Auster, e peguei dele essa pala do dia em questão, e agora tudo pra mim é a pessoa em questão, a comida em questão, o problema em questão]. Para sempre agora as minhas pedras favoritas vão ser as negras, ou talvez só as arredondadas de um arredondado específico (que vc nunca me contou qual é), que produz o som específico. aquele que vc disse saber qual é de tanto que já ouviu.
E catando as pedras, reafirmo a minha saudade do que nunca aconteceu entre nós. Imprimo nesse tipo de pedra o meu sentimento e a sua imagem. E não há aí possibilidade de um dia fugir de você. Ainda bem..

sábado, maio 03, 2008

abandonei-te, mas deixei as pulseiras pra trás

(Não sei porque tinha tanta luz.) Tinha tanta luz que senti estar debaixo d'água. Era como se o dia estivesse gritando que está lindo - o Sol despejando essa luz sem cansar - e o ar refratasse cada partícula/micromedida de onda dessa luz; e eu e você fôssemos fantasmas feitos de aroma doce e hortelã. Aí não sei porquê, mas de repente estávamos no chão, a câmera também - e o chão parecia feito de calcário, e a branquidão obcena da cena fazia eu parecer amarela, e você, mais rosa que o normal. Eu segurava a sua mão, acho que não havia temperatura alguma entre corpo algum talvez pelo simples motivo de isso não se sobrepor às outras sensações que se faziam sentir... e eu sabia que isso tudo não podia ser, mas era tão bom... o seu cabelo excessivamente preto-petróleo me intoxicava e eu dopada olhando através de olhos semicerrados me voltei fitanto os seus olhos - tão tristes, sempre - e desabei em prantos, mas nenhuma lágrima saiu, e tudo, que estava tão sereno e ainda vivo, sem aviso começou a secar, e fez a mão que eu segurava parecer a guelra de um bacalhau salgado, e tudo, absolutamente tudo parou de fazer qualquer sentido. E você lá, deitado no chão meio areia, meio sol, meio água... lucidamente tão existente pra mim...
e a dor que eu queria sentir era tão grande!, ela queria se fazer real. Eu sabia que teria de te deixar pra trás só para aquela dor não me dilacerar em sonho também. E como quem deixa algo pra trás a fim de se forçar a voltar algum dia (e eu vou voltar sim)... tirei as pulseiras que você tantas vezes amarrou pra mim fazendo juras de amor e eternidade e deitei-as ao seu lado antes de me levantar e acordar chorando na minha cama em colcha de flores banhada de luz do sol e o cheiro do piano aberto sob o sol da manhã.
E juro que aquele dia estava tão lindo como o dia com o qual sonhei aquela madrugada, mas preferia não ter acordado pra descobrir que você realmente estava longe de mim.

Por hora.